Seu filho precisa de terapia?
Um comportamento diferente ou uma dificuldade inesperada
de seu filho, um acontecimento traumático, uma reação surpreendente: o
que pensar e qual atitude tomar na hora em que bate a dúvida de procurar
um psicólogo. Saiba aqui que tipo de situação, quais especialistas você
vai encontrar e por que não há razão para ter preconceito ou se sentir
fracassado
Por Cristiane Rogerio
Quando planejamos ou temos um filho, a felicidade e a responsabilidade
são tão grandes que muitas vezes nos parece uma missão impossível. Mesmo
que a jornada já tenha começado. Diante de um conflito – de não
conseguir que a criança saia da frente da TV até como fazê-la entender
que seus pais não vão mais morar juntos –, é legítimo achar que a força
de ser mãe ou ser pai vai desmoronar. Mas também legítimo é entender que
pode precisar de ajuda. De alguém da família, de um educador da escola,
de um amigo ou, sim, de um terapeuta. Mas quem é esse profissional?
Como entender esses vários “psis” disponíveis?
Psicólogo, psicanalista, psicopedagogo e psiquiatra são alguns dos
especialistas apoiadores dos pais, desde um caso de transtorno
comportamental diagnosticado a uma dificuldade pontual emocional. Ah,
mas antigamente não precisávamos deles, alguém pode dizer. Verdade, sabe
por quê? Antes sabíamos menos sobre o que se passa na infância. “O
preconceito contra esse tipo de atuação profissional está diminuindo
porque temos informações melhores”, diz o pediatra Eduardo Juan Troster,
coordenador da UTI Neonatal do Hospital Albert Einstein (SP). “As
questões da saúde evoluíram tanto que é praticamente impossível só um
profissional dar conta de um ser humano do ponto de vista clínico,
orgânico, mental, emocional”, diz a psicóloga Rita Calegari, do Hospital
São Camilo (SP).
Claro que não é fácil enxergar um problema no filho. Para ninguém. Qual
pai ou mãe não luta todos os dias para que ele seja feliz? “Os pais têm
sempre um filho imaginado, e, às vezes, não conseguem aceitar o filho
real, assumir para si mesmo que ele é diferente do esperado. É difícil
não se culpar, não se decepcionar ou até sentir um certo ciúme de que
outra pessoa vai ajudá-lo e não você”, diz Gina Khafif Levinzon, membro
da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Outra dificuldade pode ser a de
não querer acreditar que o filho, de fato, tem algum problema e sempre
buscar uma justificativa para o comportamento dele. Aceitar a realidade
não quer dizer que você falhou.
Mas quando procurar ajuda? Há dois sinais mais fortes.
“Primeiro, se a criança ou adolescente tem um problema acadêmico. Não
uma nota baixa, mas quando realmente se percebe que não está aprendendo.
Segundo, se tem algum prejuízo de relacionamento social. Se exclui ou é
excluído, é impulsivo demais, fica isolado no recreio, não tem amigos.
Com a criança sofrendo, investigue”, diz o psiquiatra Gustavo Teixeira,
autor dos livros Manual Antibullying e Desatentos e Hiperativos (ambos
da Ed. BestSeller). S
Juntos pela criança
Parceria e foco são fundamentais. “Não adianta ter uma série de
intervenções se os pais possuem uma conduta inapropriada. Indiretamente,
eles quase que passam por um processo terapêutico também”, diz o
psiquiatra Paulo Germano Marmorato, coordenador do Ambulatório de
Socialização, do Serviço de Psiquiatria da Infância e do Adolescente do
Hospital das Clínicas (SP). “Muitos temem que a criança fique dependente
da terapia. Mas, na verdade, o objetivo é justamente fazer com que ela
caminhe sozinha”, afirma Gina Levinzon.
Por isso, para Marmorato, os pais precisam saber o que está acontecendo
com a criança o tempo todo. “Para entenderem que tipo de proposta o
profissional oferece. É um ‘o que vamos fazer para que seu filho consiga
lidar melhor com o que está acontecendo’”, afirma ele, que também é
psicoterapeuta. “O profissional verá primeiro os pais, perguntará sobre a
concepção e o parto, os primeiros anos de vida, se teve doenças, como é
a questão da alimentação, sono etc., e qual a queixa. Só depois a
criança entra e, se necessário, começam as sessões”, explica Rita
Calegari. Nelas, a criança vai ser submetida a testes específicos, mas
ela achará que está brincando. “A gente avalia tudo, pensa nos
encaminhamentos, que podem ser desde a terapia, uma consulta a um
neurologista ou até fazer uma atividade física”, diz a especialista.
As alterações de comportamento da criança são mais facilmente
percebidas na escola. “O diagnóstico de um problema é frequentemente
feito pela professora, que tem contato quase todos os dias do ano com a
criança”, afirma Troster.
http://revistacrescer.globo.com/Criancas/Comportamento/noticia/2015/03/seu-filho-precisa-de-terapia.html